Como está a população de São Jorge a acompanhar o fenómeno sismo-vulcânico que afeta a ilha desde o último sábado?
Naturalmente, com uma grande preocupação. Desde logo porque uma boa parte da população recorda situações semelhantes vividas nos últimos 50 ou 60 anos, nomeadamente as crises de 1964, de 1980 e de 1998. Por outro lado, o que se conta do grande terramoto de 1757 em São Jorge, que ficou conhecido pelo Mandado de Deus, também tem influência na preocupação das pessoas, bem como a erupção vulcânica de 1808 na Urzelina. Desde logo porque se percebe que o fenómeno a que estamos hoje a assistir parece ser bastante diferente do que foram as crises anteriores. Não há memória desta quantidade de sismos tão concentrados junto às povoações desta ilha. E tudo isto leva-nos a uma perplexidade individual e coletiva bastante grande.
Foi montado um enorme aparato à volta do fenómeno, com a comunicação social a descobrir mais um “filão” e as autoridades a anunciarem planos, inclusive de evacuação. Já está, aliás, a decorrer a evacuação de doentes das Velas para a Calheta. Que impacto psicológico pode tudo isto ter nos jorgenses?
Julgo que as autoridades estão a fazer aquilo que é o mais adequado. Ou seja, mandam as regras que, em situações deste género, se mantenha a calma e se dê particular atenção à prevenção. É o que está a acontecer. Pelo seguro começaram por transferir os doentes internados para a Calheta e julgo que se preparam para transferir também as pessoas com maiores dificuldades ao nível da mobilidade. Depois, consoante o evoluir da situação, serão com certeza dadas outras indicações à população que, por sua vez, deverá estar atenta e respeitar esses planos que a proteção civil está a organizar.
Receamos muito o que venha a acontecer, mas admitindo a possibilidade desejada de tudo isto não passar de um susto, a verdade é que, mesmo assim, haverá graves consequências económicas e ainda ao nível do despovoamento da ilha. A história prova-nos que, sempre que acontecem situações destas, há um surto muito significativo de emigração. Receio, por isso, os próximos anos.
Que setores de atividade já estão a ser afetados e quais serão mais afetados com o arrastar do fenómeno? Estará a época turística comprometida para este ano?
É curioso que, em tão poucos dias, já se consiga perceber que todos os setores de atividade económica desta ilha já se sentem afetados. Poder-se-ia dizer que é natural que nestes dias paire esse sentimento, mas a verdade é que, por exemplo a nível turístico, os operadores estão muito receosos para eventuais cancelamentos de reservas. No entanto, muitos aguardam o evoluir da situação nas próximas semanas.
Por outro lado, assistimos a um desânimo de todos os empresários que tinham grandes expectativas no verão de 2022.
Pessoalmente, como está a viver o fenómeno? Tem tomado algumas medidas especiais?
Como toda a gente, sentimo-nos muito apreensivos e preocupados com algo que é incontrolável e imprevisível. Resta-nos, portanto, seguir as medidas aconselhadas pelas entidades competentes. Como empresário, tratámos da ativação dos nossos planos de emergência e planificámos as nossas ações para os cenários que estão presentemente em cima da mesa.
“In Diário Insular”
