“Era uma provação que tinha de enfrentar”
Como está a população de São Jorge a acompanhar o fenómeno sismo-vulcânico que afeta a ilha desde o último sábado?
A população está apreensiva e surpresa com este fenómeno. Apesar de sismos e vulcões fazerem parte da história desta ilha, o facto de serem fenómenos imprevisíveis e incontroláveis geram muita ansiedade nas populações. Dois vulcões e três fenómenos sísmicos de grande dimensão deixaram no imaginário dos jorgenses muitos receios. Nos dias de hoje a maioria das pessoas tem consciência de como agir perante estas situações, e nota-se que cada qual se está preparando para enfrentar os cenários possíveis que a evolução desta situação irá trazer.
Foi montado um enorme aparato à volta do fenómeno, com a comunicação social a descobrir mais um “filão” e as autoridades a anunciarem planos, inclusive de evacuação. Já está, aliás, a decorrer a evacuação de doentes das Velas para a Calheta. Que impacto psicológico pode tudo isto ter nos jorgenses?
O poder da comunicação social pode ter uma grande influência psicológica nas pessoas para o bem e para o mal. É importante informar de forma concisa e tudo o que seja especulação seria absolutamente desnecessário, mas sabemos que a competição por audiências fala mais alto que o bom senso. As redes sociais também difundem muito alarmismo, o que não é positivo nestas alturas. No entanto, verifica-se que tem havido informação técnica com precisão e que rapidamente se implementaram os planos de emergência municipais. A evacuação de doentes, idosos e pessoas com mobilidade reduzida veio tranquilizar os mesmos e os seus familiares. Quanto à execução dos planos, vai depender de muitos fatores, mas essencialmente da capacidade dos responsáveis em manter a tranquilidade e o discernimento para decidirem da melhor forma, bem como das populações para cumprirem as indicações. Os planos no papel dão sempre certo, na prática, infelizmente, nem sempre funcionam.
Preocupa-me que até domingo os voos da SATA estejam cheios à saída de S. Jorge e não se tenha criado um voo extra para quem antecipadamente deseja sair da ilha. Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.
Que setores de atividade já estão a ser afetados e quais serão mais afetados com o arrastar do fenómeno? Estará a época turística comprometida para este ano?
Qualquer fenómeno desta natureza afeta todas as atividades, e o turismo inclusive. O que tenho verificado é que os operadores, apesar de estarem apreensivos, ainda não efetuaram cancelamentos para a época alta, e aguardam com a esperança que dentro de algumas semanas já tenha sido ultrapassado este problema.
Pessoalmente, como está a viver o fenómeno? Tem tomado algumas medidas especiais?
Estou preocupado, mas com plena consciência que era uma provação que tinha de enfrentar um dia. É muito difícil colocar o trabalho de uma vida dentro de uma pequena mala de viagem. Partir da nossa casa com a incerteza do regresso.
Tenho estado a pôr em prática o plano de emergência para as minhas empresas, nomeadamente recorrer ao teletrabalho na agência de viagens, instalação de servidores virtuais para podermos trabalhar à distância.
Proteger alguns bens, dentro do pouco que se pode proteger.
“In Diário Insular” 26.03.2022
