“O principal perigo na vida é que se tomem demasiadas precauções.” (Alfred Adler)
O excesso de zelo leva, não poucas vezes, a situações caricatas, mesmo quando estas possam envolver potenciais problemas com gravidade para as populações.
Desde o massacre das medições, à profusa, e confusa porque demasiada, divulgação dos seus registos, criou-se o ambiente perfeito para que, entrementes, as pessoas passassem do oitenta ao oito, depois da inversa situação ter ocorrido pouco antes.
De permeio, e em passo estugado, veio o “prémio”, quando a própria comunicação social deixou de dar realce ao evoluir da crise sísmica.
Outra coisa não seria de esperar, perante o desesperar das famílias e das empresas para que a normalidade, que se sentia estar a voltar, recuperasse o seu lugar nesta – tal como as suas irmãs – ilha de bruma e de… sismos.
Assim, o culto do risco pelo risco, passem a aparente redundância e o suposto exagero, só poderia conduzir ao fartote para quem viva localmente o fenómeno ou o acompanhe à distância marcada pela simples ausência ou pelo inevitável alheamento.
O tal modo obsessivo de prevenir, à custa do susto filho do abuso, acabou por retirar espaço para que a comunidade técnico-científica pudesse bater em retirada plausível, ou seja, ficasse à mercê de uma debandada risível.
A visita do Presidente da República poderia ter sido o momento de aliviar a pressão em excessivo exercício, contudo essa oportunidade falhou estrondosa e surpreendentemente. Alguém duvida que Marcelo Rebelo de Sousa teria sido a personalidade ideal e real para apadrinhar tão desejável e desejado alívio? Ninguém, apoiante ou não votante, certamente!
Agora, todavia, já se ouve falar de permanecerem equipamentos, mas não se ouviu que o famigerado “nível IV” pudesse baixar (até hoje, dia 8 de maio), se bem que, entre magnitudes, intensidades, frequências ou insistências no baralhar e dar o mesmo, se pressinta que as paciências – da comunidade local e dos respetivos responsáveis políticos – possam entrar numa fase irritativa e, quem sabe, eruptiva…
Para culminar, eis que surge a peregrina ideia do manual de instruções (relativo a crises sísmicas) para turista ler, que é como quem diz para turista não aparecer!
A mania dos perigos é um completo atropelo ao bom senso!
Como açoriano e jorgense permito-me, a bem de todos os naturais e residentes, discordar que o ciclo iniciado com a eruptivomania teime em reduzir S. Jorge a uma sismolândia!
In: Jornal Diário Insular de 10.05.2022
