Vem este artigo a propósito de um sentimento de descrença que começa a pairar, sobre a ampliação do porto do Topo.
Talvez por me parecer prematuro esse cepticismo que agora emerge sobre a sua concretização, temos de admitir que a demora e os entraves verificados, serão passíveis de interpretações divergentes.
A promessa deste Governo, pela determinação com que foi apresentada, gerou uma enorme expectativa, quase generalizada, da realização de um sonho de gerações.
No entanto, ao primeiro contratempo, o que ontem, para alguns, se afigurava como garantido, rapidamente se transformou numa incerteza.
Não devemos ser tão incrédulos. Temos que dar tempo ao tempo!
Uma coisa é certa! O Governo demonstrou boas intenções quando finalmente entendeu o desejo da população do Topo.
Pôs-se a caminho, prometeu um novo porto, apresentou um projecto e a população deu uma resposta à altura, demonstrando o seu agradecimento nos boletins de voto das pretéritas eleições regionais.
Este terá sido o primeiro grande contributo popular para a concretização deste projecto.
O contributo seguinte, salvo melhor opinião, talvez seja de tolerância.
Normalmente, estes investimentos demoram. Os projectistas levam tempo a executar o projecto, a respectiva aprovação também não é de um dia para o outro, acontecem entretanto reformulações ou adaptações, os processos concursais também não são muito rápidos e, muitas vezes, as comissões de análise (aquelas que, por vezes, se diz serem nomeadas para protelar uma decisão que se pretende adiar) não se podem reunir todos os dias.
Depois, ainda pelo meio, surgem problemas que inviabilizam os vistos do Tribunal de Contas. Enfim, um conjunto de obstáculos “supostamente” imprevisíveis.
Esperemos, portanto, com optimismo, porque é o que nos resta fazer.
Admitamos que não vem mal ao mundo se aguardarmos dois ou três anos por um desejo de algumas décadas.
Sejamos francos! Muito dificilmente os nossos governantes teriam a ousadia de fazer o povo acreditar na concretização de um sonho, sem que tivessem essa verdadeira intenção. Eu não consigo acreditar nisso, sinceramente!
César, e posteriormente Vasco Cordeiro, assumiram um compromisso muito claro.
Se fecharmos os olhos (em silêncio absoluto) ainda conseguimos ouvir a sua voz dizendo, alto e bom som, que o porto do Topo seria, em breve, uma realidade.
Pouco tempo depois, recordamos, aconteceu a apresentação dos desenhos, num ambiente de festa e de alegria, com perspectivas diversas daquela estrutura, em três dimensões, expostas nos placards e explicados pelo autor, para que não restassem dúvidas.
Até mesmo os carros e os barcos já se encontravam lá estacionados. E, no terrapleno, as pessoas passeavam-se com um ar feliz.
Lembro-me que alguns, no entanto, mantinham algumas reservas sobre se aquele seria, de facto, o projecto do porto, ou apenas desenhos de um estudo preliminar, mais ou menos apressado, para se apresentar em dia de festa.
Mera especulação! Aqueles que estavam mais próximos, quer dos desenhos, quer da acção governativa, asseguravam, também com toda a legitimidade, que se tratava de um projecto real e adequado à zona do Topo.
Não haverá portanto, motivos para duvidar, pela convicção com que o afirmavam e defendiam.
Insisto. Temos é que dar tempo ao tempo!
Desta demora, pensa-se que poderá ter acontecido algum imprevisto maior que tenha embaraçado o bom andamento do projecto. Mas o facto de não estar ainda devidamente esclarecido, está a criar, em algumas pessoas, algum desconforto.
Isto, porque os imprevistos acontecem e, em particular na zona do Topo, não são propriamente uma surpresa para ninguém.
A opção por um porto de pescas terá provocado, no entanto, para alguns – por ventura, para aquela minoria mais inconformada – uma desconcertante desilusão, pois acredita-se que, com alguma boa vontade e pouco mais de cem mil euros do orçamento regional, o Topo passaria a ter ligações com a Terceira, através dos transportes públicos marítimos de passageiros que operam no Grupo Central.
Este sim, talvez pudesse ter sido o tema mais adequado para a reflexão dos jorgenses.
Mas diz a sabedoria popular que não se pode ter tudo. E esta acabou por ser a opção do Governo, legitimamente aceite e aprovada pela generalidade da população.
Terá sido uma oportunidade perdida? O tempo encarregar-se-á tranquilamente de o esclarecer…
Ainda sobre as prometidas obras, sem possuir qualquer informação privilegiada, quero acreditar que este sentimento que agora se vive – de alguma descrença – não será certamente o mais fundamentado.
Por mim, prefiro acreditar nas palavras do Presidente do Governo.
Tenho é que dar tempo ao tempo!
Reconheço, que em momentos de maior hesitação, fecho os olhos e ouço a voz dizendo “o porto do Topo será, em breve, uma realidade”.
No entanto, se há coisa que não gosto, é de ter que fechar os olhos para conseguir acreditar!
Aires Reis
