Todos sabemos que o problema da desertificação é um «fenómeno» geracional que afeta todo o País (parte da Europa, também), logo, se apresenta com resolução difícil para a sua irradicação (direi diminuição). Porém «nada fazer não é solução», o quedarmo-nos quietos, amorfos, sacudindo a água do capote» ou seja pensando que as responsabilidades são dos outros, só acelera o caminhar para uma ilha, com cada vez menos habitantes.
O problema da desertificação da ilha, deve passar acima de tudo pelo assumir, por parte das entidades locais (sem esquecer os contributos que devem vir do Poder Regional) que este é um problema sério que é nosso, muito nosso.
Os resultados dos últimos Censos, devem servir para todos nós, como sendo as linhas vermelhas de um alerta sério.
Então que fazer? Todos poderão e devem dar sugestões, opiniões e pistas para se encontrarem as respostas tão necessárias para este problema.
O primeiro e principal passo para inverter o crescimento exponencial do problema (temos uma população muito idosa), será adotar medidas arrojadas e práticas para que os jovens casais (ou não casais) se motivem para que os filhos sejam uma prioridade. (Há exemplos de apoios em algumas Autarquias com assinalável êxito), apoios esses que passem pela habitação (ajudando na recuperação e ou melhoramento), por creches, ou fomentando formação adequada (através da EPISJ) para «cuidadores de bebés», ou como algumas autarquias já disponibilizam (até nos Açores) do fornecimento de «senhas» para uso no comércio local e para ajuda na compra de produtos destinados às necessidades básicas dos «jovens» filhos, medida que poderia ser mais um passo para fomentar a natalidade.
No combate à desertificação outros passos poderiam ser dados como por exemplo:
- a) Aproveitar a Escola Profissional para trazer alunos do exterior (Cabo -Verde e Timor) e dar-lhe formação na área do turismo e agricultura (com acordos com as autarquias de origem) na hipótese de alguns se fixarem na ilha, não esquecendo que durante o tempo dos cursos «ajudam» em aspectos importantes da nossa comunidade (desporto, música, etc.).
- b) Um entendimento com a iniciativa privada para procurar captar em outras ilhas (São Miguel e Cabo-Verde) gente que possa trabalhar principalmente na agricultura, na construção civil, turismo e pescas com apoios (enquanto não se enquadram nas nossas vivências) na área da habitação e educação dos filhos;
- c) Procurar através das nossas Autarquias (e com informação eficiente) junto da nossa diáspora motivar os emigrantes, principalmente aqueles que podem investir (há exemplos na ilha) para o fazerem na sua terra, ou aqueles que já estão na idade da reforma que possam usufruir na ilha com as condições que já temos de um ambiente mais acolhedor e amigo (uma área a explorar pela iniciativa privada);
- d) Procurar junto de Países Europeus (Alemanha, Inglaterra, Suécia, etc.) países de grande, potencial económico que à medida do possível (o que já acontece, mas em pequena escala) que possam procurar a nossa ilha com espaço de descanso/lazer , ou até investir na aquisição e ou recuperação de moradias e aqui se fixarem
- e) Criar condições para que e estando nós situados neste Triângulo de ilhas, sejamos capazes de motivar/captar (aproveitando o Parque Industrial, que «merece» um crescimento sério e estrutural, e não uma pequena amostra) empresas de grande distribuição (alimentação, eletrodomésticos, mobiliário, etc.) para aqui construírem os seus centros de distribuição o que traria mais pessoal e movimento;
- d) Insistir (cabe aos Deputados Regionais eleitos pela ilha) junto do Governo Regional e Empresas Regionais para que os Serviços na ilha preencham os seus quadros de pessoal, respondendo às necessidades da população e fomentando a fixação de estudantes da ilha que acabaram os seus cursos e ou outros jovens.
Há outros problemas que S. Jorge tem de enfrentar. Nomeadamente na área agrícola (na sua diversificação) e outros caminhos existirão de certeza para ajudar neste desiderato, mas quem tem a gestão dos destinos da ilha nas suas mãos (rodeados de colaboradores) certamente encontrarão outras opções, agora mais viáveis de concretizar com a nova «bazuca» financeira oriunda da União Europeia.
O que interessa é agirmos, caso contrário havemos de viver felizes, os poucos que cá estaremos (a ilha teve 22.148 habitantes -João Soares de Albergaria – «Corografia Açórica 2ª edição 1975), somos realistas, sabemos que é difícil o caminho (mas seria possível chegar aos números de 80 -12.000), para tal ser possível há que ter arrojo, ousadia e vontade de fazer. Precisamos de líderes com visão estratégica para o futuro, com obras e projetos que rentabilizem os investimentos e fixem população.
Abrir o debate é importante para todos se comprometerem com este desafio, porque uma terra sem gente, é uma terra sem vida.
Entendo que o progresso (ou o desenvolvimento, palavra muito em voga), só se constrói se acreditarmos que os sonhos tem asas para voar.
Afinal o que queremos (todos) é viver nesta parcela Açoriana, teimosamente ficando, porque fomos gerados nas noites repletas de luar, embalados na irrequietude de vulcões.
Fizemo-nos gente calcorreando fajãs de esperança e estamos presos a este veio de terra. Afinal ficamos neste oceano de barcos, chegando e partindo, levando e trazendo saudades, sonhos e quimeras.
Afinal, ficamos porque a ilha é o nosso berço e mundo.
É que ser-se Jorgense, não é uma desgraça, é antes uma felicidade, mas o ser-se feliz exige esforço, trabalho, persistência e não o fecharmo-nos em «círculos dourados», pensando que somos iluminados por um deus próprio e que a nossa autoestima tudo supera. Todos somos poucos para enfrentar os desafios do presente.
Não me excluo desse desafio e estou dando (o meu modesto contributo) em conjunto com outros jorgenses (viticultores) os primeiros passos para que São Jorge tenha a sua Cooperativa Vitivinícola e possa aumentar a sua área de vinha, recorrendo aos apoios previstos na legislação regional e europeia e contribuindo assim para a diversificação da produção agrícola na ilha e para provar que os jorgenses são gente de ir em frente e ocupar o espaço que merecem no contexto do desenvolvimento da Região.
